Promotor
Município de Vila Nova de Famalicão
Breve Introdução
Poética da Palavra I Encontros de Teatro
Capítulo 1: 13 e 14 de abril de 2018
Estes encontros de teatro, tem como base aglutinadora - o texto, a palavra, a voz, o trabalho de ator, elementos fundamentais da ação teatral, do teatro. Queremos evidenciar este universo de elementos cúmplices, aquilo que entendemos como a essência, a ontologia, do teatro. Pretendemos destacar a interpretação, a relação entre técnica, sentimento íntimo e subjetivo de convicção criadora e a consolidação da personagem, como um processo indissociável de um exigente trabalho pessoal, que é físico e de estudo profundo e inesgotável. Em cada um dos dois dias, no fim da noite, teremos uma conversa com os atores que protagonizam cada projeto teatral, no sentido de podermos conhecer o trabalho, concreto, sobre o texto, a palavra e a sua relação com o corpo (que lhe dá voz), e o processo de construção de cada personagem. Neste primeiro encontro de 2018, teremos quatro projetos: A Grande Vaga de Frio; O Diário de um Louco; O Cisne; A Mulherzinha.
O CISNE + MULHERZINHA
Teatro
14 de abril, sábado, 21:30 e 22:45
Grande Auditório e Café Concerto
Entrada: 6 euros / Estudantes e Cartão Quadrilátero Cultural: 3 euros
M/12 anos
Duração: 55 + 55 minutos
O CISNE
O ator proscrito
Sessenta e oito anos e doente. Síntese biográfica de um actor derrotado e cansado que, ao fim de mais de quatro décadas de palco, cenas, desencontros e desilusões, olha para trás e não consegue ver nada além de uma vida desbaratada ao serviço do ócio de estranhos. A aguda consciência da grandeza do teatro, da sua força, vigor, indispensabilidade e glória, contrapõe-se, neste espetáculo, à desiludida aceitação dos imensos sacrifícios a que se vêem obrigados muitos dos seus mais fervorosos praticantes, sonhadores destemidos que, em paga da sua militância, são recompensados com o esquecimento. Partindo de uma das mais emblemáticas peças em um ato de Anton Tchekhov, "O Canto do Cisne", viajamos no lirismo embriagado e delirante de um comediante velho, gasto, amargurado e solitário, um homem cuja imaginação doente o faz reviver a grandiosa carreira que não teve. Entre companheiros invisíveis, citações avulsas, memórias distorcidas e impulsos in concretizáveis, um homem só, num teatro às escuras, de garrafa na mão, desata-se em palavras para adiar, um pouco mais, o inevitável descer do pano.
Ficha Técnica
A partir de "Canto do Cisne", "Ivanov" e "As Três Irmãs" de Anton Tchekhov e "Hamlet" de William Shakespeare
Ideia Original, Tradução (a partir da versão inglesa de Marian Fell), Adaptação e Encenação - Pedro Galiza
Interpretação - Tiago Regueiras
Espaço Cénico, Desenho de Luz e Figurino - Pedro Morim
Caracterização - Crestina Martins
Design Gráfico - Adriana Leites
Motion Design e Fotografia - Nuno Leites
Produção - Marácula Associação Cultural
Informações Adicionais
A MULHERZINHA
A partir de Franz Kafka
Não há como explicar Kafka. Derrota o propósito.
A um construtor de labirintos, a arte que se lhe pede é que nos dificulte a saída. E Kafka é, em grande parte, um genial construtor de labirintos, perdido em si e arrastando-nos a nós com ele, ardente e dolorosamente consciente de que não somos mais do que crianças entregues à sua própria sorte num mundo bizarro, reflexo distorcido daquilo a que gostamos de chamar razão ou sentido. Ter-lhe-á pertencido uma das vozes literárias que com mais lucidez, ainda que com assinalável ambivalência, nos tenha puxado o metafísico tapete, pondo a nu a delicada vulnerabilidade com que navegamos uma existência hostil.
Prestando as devidas honras a essa lucidez, A Mulherzinha fala sobre o que fala e nada mais, não pretendendo ir além do labirinto. Saídas, ainda que as vislumbremos, sentimo-las, além de distantes, impossíveis. O espetáculo, montado como se de uma composição sinfónica se tratasse, encontra nas palavras de Kafka uma pauta de impotências, palavras essas que usurpámos aos livros, aos contos e aos aforismos e cruzámos com outras, nossas, que àquelas primeiras respondem com as inquietações particulares que a nós nos assombram. Cabe à atriz, espartilhada pelo conceito plástico do concerto, encontrar na cena um fio, o fio que, ainda que indicar-lhe a saída não possa, lhe permita, ao menos, continuar em movimento, em direção não ao exterior, à liberdade, mas ao interior, em direção a uma qualquer verdade teatral e humana.
Kafka, achamos nós que inadvertidamente, é cruel. Não nos deixa ir embora. Quer-nos aqui, presos. Leitores leais que somos, antes de tudo o resto, resignámo-nos e, em resposta, na jaula que nos montou, compusemos-lhe uma sinfonia.
Esperamos que goste.
Ficha Técnica
Ideia Original, Adaptação e Interpretação - Inês S Pereira
Tradução, Adaptação e Encenação - Pedro Galiza
Espaço Cénico e Desenho de Luz - Pedro Morim
Sonoplastia, Fotografia e Motion Design - Nuno Leites
Design Gráfico - Adriana Leites
Produção - Marácula